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Política

Em Ubatuba, quando a manifestação individual é, na verdade, uma ação orquestrada, mas fingimos não saber

A boca de urna é o mal que corrói o futuro de nossa cidade

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Passados dois dias do fim das eleições, continuo pensando em algo que há algum tempo muito me incomoda: a incapacidade da Justiça Eleitoral de agir para evitar que a compra de votos se perpetue como o único caminho para as escolhas em cidades como Ubatuba.

O que se viu em 2024 vai muito além de uma apreensão de valores junto a um candidato a vereador no Ipiranguinha, suspeito de estar comprando votos. O que se viu foi, mais uma vez, sob o pretexto da manifestação silenciosa e individual, foram centenas de pessoas aglomeradas em frente aos locais de votação não apenas demonstrando sua predileção por um ou outro candidato, mas ações orquestradas de ter à frente das escolas grupos que trabalharam declaradamente por um ou outro candidato. E isso a olhos vistos de qualquer um que gastasse um minuto de sua atenção para olhar para o lado. Um olhar que a Justiça Eleitoral demonstra não ter. Pois se tivesse, perceberia, por exemplo, que os adesivos utilizados no dia da eleição em muito se diferem dos utilizados ao longo da campanha, o que demonstra, por si só, uma organização específica para o dia da eleição, que fica bem longe de uma manifestação individual, como a Justiça finge acreditar.

Os prejuízos dessa prática, que se fortalece no município desde 2004, vai muito além de pagamentos de valores absurdos pela “manifestação individual”, e da intervenção direta do resultado das urnas, passa por vários outros aspectos, sendo um deles a falta de discussão sobre o futuro da nossa cidade. Propostas, projetos, ideias sequer são pontos trabalhados por muitos dos candidatos, muito menos avaliados pela população, pois para esses que compram votos, a preocupação é ter o recurso para o pagamento da “manifestação individual”. E o eleitor, é vítima ou é culpado?

Como resultado, temos décadas de estagnação e de repetição de modelos de gestão que se baseiam no princípio de obras em fim de mandado e arregimentação de cabos eleitorais para a última semana de campanha.

Claro que a inércia e a incapacidade da Justiça Eleitoral em agir, e o comportamento dos candidatos, são os fatores mais importantes dessa equação, mas há outros participantes desse processo que não podem ser esquecidos, dentre eles o próprio eleitor, que se permite vender o voto em um dia de trabalho sob o risco de quatro anos de abandono, descaso, serviços mal prestados e falta de acesso à necessidades básicas, como cidadão.

Perspectiva de mudança? Nenhuma. Não enquanto a Justiça Eleitoral não encontrar mecanismos para agir de verdade e não em um faz de contas digno da velha história do ex-jogador Vampeta: “eu finjo que jogo e eles fingem que pagam”. Não enquanto os empresários da cidade não participarem diretamente de todo o processo eleitoral, e não apenas à espera da última semana e da definição de um nome para eles, covardemente, apoiarem, pois preferem “apostar suas fichassem quem vai vencer”, claramente em busca de favores futuros.

Não, enquanto a sociedade civil organizada não trabalhar pela conscientização da população em prol do voto consciente, em detrimento do voto útil.

Somos sim uma democracia jovem, mas já deu tempo suficiente para trabalharmos por boas práticas eleitorais e não para tornarmos cada vez mais cultural os abusos de poder político, econômico; os assédios morais e intelectuais, e tantas outras práticas que resultam em escolhas que promovem o atraso de uma cidade como Ubatuba, que está muito longe do lugar que deveria ocupar e que, dessa maneira deverá permanecer ainda por muitos anos, até décadas, se nós, enquanto sociedade, não combatermos todas as práticas aqui citadas, ao invés de contribuirmos para que elas se perpetuem e se tornem cada vez mais parte do que somos, enquanto Cidade, Estado e País.

 

 

Ednelson Prado - Jornalista, Doutor em Comunicação.

 

** A opinião dos nossos coluinistas não representam, necessariamente, a opinião do LN21. 

 

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