Me lembro, ainda criança, do significado do desfile de 28 de outubro. Era uma data especial, em que tínhamos a oportunidade de desfilar por nossas escolas. Sei que desfilei pelo Colégio Dominique, fantasiado, mas muito criança, não tenho lembrança dos detalhes.
As lembranças melhores vêm das vezes em que desfilei pela fanfarra do Anchieta, muito antes dela ser a famosa e campeã Famipa, em que eu tocava surdo, pois, naquela época, a percussão era o ponto alto, pois os metais se restringiam à poucas cornetas. Até por isso, as apresentações das fanfarras vindas de São Luiz do Paraitinga e Ilhabela nos encantavam, com suas músicas e coreografias.
Também me lembro que, no caso do Anchieta, foi o querido Chico que começou a mudar essa realidade, valorizando mais os instrumentos de sopro, que passaram a ditar o ritmo das apresentações, seguido posteriormente por Valdeci e nosso saudoso Leandro, no comando daquela que se tornou a Fanfarra mais premiada de nossa cidade, conquistando o título Brasileiro em Ponta Grossa, no Paraná.
Houve também os desfiles pela escolinha de basquete e de vôlei do Tubão. Tempos em que tínhamos Richardão, Elza, Ditinho como nossos professores e responsáveis por nos organizar para o tão esperado desfile.
Porque era isso, o desfile de 28 de outubro era um acontecimento, tanto que a ansiedade era tamanha que, por algumas vezes, dormir na noite anterior era complicado, por conta da expectativa de estar ali. Para mim, como criança, era importante desfilar, representar algo, fosse a escola, fosse a modalidade esportiva. O importante era estar ali.
Em muitos anos, esta é a primeira vez que não temos o desfile. Nem mesmo durante o período em que arrumamos e desarrumamos a nossa tão tradicional avenida Iperoig, o desfile deixava de ocorrer. Para isso, a avenida Dona Maria Alves nos salvava, e permitia que o aniversário da cidade mantivesse o desfile como sua tradição.
Mas, em 2024, não houve. Pior, não me recordo de um anúncio oficial, explicando o motivo, apenas o silêncio e a não realização.
Tenho comigo que a questão não foi financeira. Posso estar errado, mas acredito que a principal e, talvez, a única, razão tenha sido evitar protestos como os ocorridos no ano passado, quando a cidade era gerenciada pelo vice-prefeito Marcinho, que, lembremos, saiu, como o Leão da Montanha, de forma estratégica, pela direita, para evitar o protesto dos professores, profissionais que, possivelmente, se manifestariam novamente este ano, pois continuam sendo desrespeitado por nossos governantes.
Fico triste pela não realização do desfile. A Feira das Nações também é um evento tradicional do aniversário de Ubatuba, mas ela não é o ápice, não é o marco, o marco é o desfile, que este ano não ocorreu.
Mas tanto quanto triste, fico preocupado, pois não houve desfile e ninguém falou nada, não houve reclamação, manifestação, indignação, nada. E esse nada, pode representar o início da perda de mais um evento importante que corre o risco de ser deixado de lado.
Triste saber que Ubatuba está tão abandonada, tão largada, que seu povo nem se ressente mais das perdas, do descaso, com a nossa história, nossas tradições, e nem com o nosso presente.
Ubatuba está se deixando levar, acumulando perdas que colocam em xeque sua identidade, que fazem diminuir cada vez mais a sensação de pertencimento da população.
Finalizamos 28 de outubro parabenizando nossa querida e amada Ubatuba pelos seus 387 anos, mas também refletindo sobre como será o futuro de nossa cidade se continuarmos achando natural, normal, a perda de momentos tão importantes e que tanto significaram para nossa gente, ao longo dos anos.
Parabéns Ubatuba, apesar deles, você continua sendo nosso maior encanto.
Ednelson Prado
Jornalista
Doutor em Comunicação
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