No próximo dia 31, termina o mandato da atual legislatura, ouso dizer, a pior da história recente de nossa cidade. E digo isso não por conta da denúncia de "rachadinha" ou do processo de cassação da prefeita Flávia Pascoal, falo pela inoperância, pela incapacidade de entender os interesses da população que a elegeu, pela falta de conhecimento, pela falta de interesse e pela falta de compreensão de qual é o papel do legislador. Sim, falta de conhecimento do papel legislativo por uma boa parcela que sequer fiscalizou ou legislou, apenas se utilizou das benesses que o cargo proporciona.
Para quem discorda ou duvida do que falo, sugiro que faça um levantamento dos projetos propostos ao longo desses quase quatro anos. Tenho certeza de que verá que a grande maioria dos itens que compuseram as ordens do dia foi composta de indicações e pedidos de informação, tão relevantes quando saber qual "influencer" ocupou as manchetes dos jornais no dia de hoje.
E antes que comecem a me atirar pedras, considerem que minha opinião pode, muito bem, estar sendo corroborada por boa parte da população local. Afinal, tivemos uma renovação de 70% das cadeiras.
Apesar de se acharem inatingíveis, de agirem como se nada pudesse lhes acontecer, o recado dado pelas urnas é de que, apesar de tudo, há uma parcela da população que está atenta, acompanha e não despreza os descasos que muitos dos atuais vereadores comete.
Ao longo dos últimos quatro anos, assuntos importantes precisaram e foram discutidos pela sociedade ubatubense, mas que não contaram com a mínima atenção dos vereadores, afinal, muitos deles estiveram preocupados apenas em saber quais ruas conseguiriam beneficiar com melhorias que lhes garantisse o voto de cabresto, o voto da troca. Mais ainda, boa parte esteve preocupada apenas com os cargos que teria junto à prefeitura para poder beneficiar seus apoiadores, para que no período eleitoral fossem cabos eleitorais em busca de voto que garantisse a reeleição.
A manifestação programada para a próxima terça-feira não é um acaso, e tampouco um grito de meia dúzia de insatisfeitos, ou mal-amados, como sabemos que alguns vereadores dirão. É o grito de uma sociedade que não aguenta um dos piores custos-benefícios de toda a cidade. Afinal, ao avaliarmos o legislativo, não podemos considerar apenas o custo salarial dos "nobres" edis, mas toda a estrutura que os envolve, com assessores, carros, combustível, etc...
Ao avaliar o que a cidade recebe em troca, pelo menos nesta legislatura, sabemos que é muito pouco, perto do que isso custa aos cofres públicos.
Como eu disse, grandes temas deveriam ter passado pela Câmara, que deveria ter sido palco de muitas discussões importantes para a cidade, como é o caso do Plano Diretor, que se arrasta sem que os vereadores entendam a importância desse instrumento para o desenvolvimento ordenado e planejado da nossa querida Ubatuba.
A manifestação da próxima terça-feira, dia 10, às 19h, é a resposta final de uma sociedade cansada, mas ainda forte o suficiente para lutar. É também um recado, que vem para complementar o dado pelas urnas, aos novos vereadores que assumem no dia primeiro de janeiro: o sistema é pesado, mas se juntar a ele pode ser um risco para daqui a quatro anos, pois boa parte de população sabe o que deve fazer quando vê que sua aposta deu errado, ela troca, porque ela não esquece das ofensas e ataques que sofre, mesmo que de maneira indireta. Já que nenhum vereador fala algo que ofenda seu eleitorado diretamente, mas age de maneira a usá-lo e depois ignorá-lo, o que pode ser considerada uma ofensa ainda pior. E muitos fazem isso pois, já que na cadeira, se sentem invencíveis, inatingíveis e, quando confrontados, chamam a polícia, não como forma de proteção, mas como forma de ameaça, o que é ainda mais triste.
Dia primeiro de janeiro, muita coisa se renova, vamos aguardar para ver quais os passos dos novos vereadores, vamos aguardar e torcer para, não apenas um novo legislativo, mas por novas práticas e pelo respeito dos novos eleitos por cada voto de representação que recebeu. Que não se esqueçam que, muito antes de serem "otoridade", são representantes da vontade do povo.
Ednelson Prado
Jornalista - Doutor em Comunicação
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