Por mais que o número impressione R$ 803 milhões , o orçamento de Ubatuba para 2025 traz menos motivos para comemorar do que se imagina. Quase um bilhão de reais para um município que é cartão-postal do Litoral Norte e destino de milhares de turistas todos os anos deveria ser suficiente para garantir ruas em bom estado, praias limpas, segurança eficiente e serviços públicos à altura de sua importância econômica e ambiental. Mas, como bem sabemos, a realidade está longe desse ideal.
Com quase 100 km de costa e mais de 100 praias, Ubatuba é uma cidade que desafia qualquer administração pública. A logística para manter tudo funcionando minimamente bem é complexa e, principalmente, cara. As estradas vicinais, que ligam bairros afastados e praias paradisíacas, frequentemente se encontram em péssimo estado. A coleta de lixo não acompanha o fluxo de visitantes durante a alta temporada. A rede de saneamento básico ainda está longe de cobrir todo o território municipal.
O problema central é que boa parte desse orçamento é consumida por despesas obrigatórias, folha de pagamento e repasses determinados por lei. Pouco, muito pouco, sobra para investimentos em infraestrutura. O resultado é um ciclo vicioso: o turista chega, paga suas taxas TPA (Taxa de Preservação Ambiental), Zona Azul, além de impostos indiretos e, na prática, recebe muito menos do que pagou.
É injusto com o visitante e, principalmente, com o morador que convive diariamente com os mesmos problemas. Não adianta termos campanhas publicitárias que exaltam as belezas naturais se o turista, ao chegar, encontra ruas esburacadas, falta de banheiros públicos, lixos acumulados e poucos agentes de segurança nas praias.
O poder público precisa urgentemente priorizar ações estruturais. Melhorar a pavimentação das vias, garantir a coleta de resíduos, ampliar o saneamento e oferecer serviços públicos de qualidade. São medidas básicas, mas que demandam planejamento sério e execução eficiente.
Ubatuba não pode ser apenas um paraíso de fotos bonitas no Instagram. Ela precisa ser uma cidade funcional, que respeite quem a visita e, sobretudo, quem a escolheu como lar. Afinal, quase um bilhão de reais não pode ser apenas um número chamativo em um relatório de orçamento; precisa se traduzir em qualidade de vida e experiências positivas para todos.
Enquanto os turistas chegam em ondas durante a alta temporada, os serviços de saúde pública de Ubatuba ficam à beira do colapso. Faltam unidades de atendimento preparadas, leitos hospitalares suficientes e infraestrutura adequada para lidar com o aumento exponencial de demanda nos meses de férias.
A mobilidade urbana também é um ponto crítico. O trânsito caótico durante feriados prolongados e a falta de planejamento viário adequado não apenas frustram moradores e turistas, mas também aumentam os riscos de acidentes. Ruas estreitas, poucas alternativas de deslocamento e o descaso com o transporte público formam um nó que precisa ser desatado com urgência.
Planejar o amanhã, cuidar do agora
Mais do que simplesmente administrar a cidade ano a ano, é urgente que Ubatuba olhe para o futuro. A elaboração de um Plano Diretor robusto, que contemple o crescimento ordenado, a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável, não é mais uma opção, mas uma necessidade urgente.
As projeções indicam que o número de visitantes crescerá ano após ano. Sem planejamento, infraestrutura adequada e políticas públicas bem executadas, corremos o risco de assistir ao declínio gradual do turismo, com visitantes buscando alternativas em outras cidades mais bem preparadas.
Investir em Ubatuba hoje significa garantir que a cidade continue sendo um destino viável e atrativo nas próximas duas ou três décadas. Isso inclui preservar as belezas naturais, melhorar a infraestrutura turística, garantir acesso universal aos serviços essenciais e criar políticas públicas que funcionem, independentemente de quem ocupa a cadeira do Executivo.
Oportunidade ou declínio: a escolha é urgente
Com um orçamento de R$ 803 milhões, Ubatuba tem nas mãos uma oportunidade histórica. A pergunta que fica é: haverá coragem política e competência técnica para fazer os investimentos certos? Será possível equilibrar o cuidado com o presente sem comprometer o futuro?
O custo de não fazer nada é alto demais. A perda de turistas, a deterioração dos espaços públicos, o aumento das desigualdades sociais e a queda na qualidade de vida são consequências que já batem à porta. O tempo para agir é agora.
Ubatuba tem potencial para ser referência em turismo sustentável, mobilidade eficiente e qualidade de vida para moradores e visitantes. Mas, para isso, será preciso mais do que discursos bem-intencionados: será necessária ação, planejamento e compromisso real com o desenvolvimento da cidade. O bilhão pode até não ter chegado oficialmente, mas R$ 803 milhões já são um excelente começo desde que bem aplicados.
Que em 2025, os gestores públicos de Ubatuba não se percam em números, mas foquem em resultados reais. A cidade e todos nós que amamos esse pedaço de paraíso merece muito mais.
Ednelson Prado
Jornalista
Doutor em Comunicação